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15 de novembro de 2008

Sem pensar duas vezes, s i l ê n c i o

"As pessoas vão e contam irremediavelmente e contam tudo cedo ou mais tarde, o interessante e o fútil, o privado e o público, o íntimo e o supérfluo. O que deveria permanecer oculto e o que tem de ser difundido, a mágoa e as alegrias e o ressentimento, os agravos e a adoração e os planos para a vingança, o que nos orgulha e o que nos envergonha, o que parecia um segredo e o que pedia sê-lo, o consabido e o inconfessável e o horroroso e o manifesto, o substancial - o enamoramento - e o insignificante - o enamoramento. Sem pensar duas vezes. As pessoas relatam sem cessar e narram sem sequer se darem conta do que estão a fazer, dos incontroláveis mecanismos de insídia, equívoco e caos que põem em movimento e que se podem tornar funestos, falam sem parar dos outros e de si mesmas, e também dos outros ao falarem de si mesmas e também de si mesmas ao falarem dos outros. Esse contar constante é percebido às vezes como uma transacção, embora se disfarce sempre com êxito de dádiva (porque em todas as ocasiões tem alguma coisa disso), e seja antes amiudadas vezes um suborno, ou a liquidação de alguma dívida, ou uma maldição que se lança a um destinatário concreto ou talvez ao acaso para que este construa estouvadamente fortuna ou desgraça, ou a moeda que compra relações sociais e favores e confiança e até amizades, e evidentemente sexo. "

Javier Marías in O teu rosto amanhã.

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